23.4.11

Resumo “Identidades Assassinas” de Amin Maalouf (1998) – Quarta Parte

O terceiro capítulo, intitulado “O Tempo das Tribos Planetárias”, começa por falar do “Espírito do tempo”. Com esta expressão, Maalouf pretende dizer que em certos momentos da História, numerosas pessoas privilegiaram um elemento da sua identidade à custa de outros. Actualmente, esse elemento é a pertença religiosa e o autor pergunta por que será que hoje em dia esta afirmação parece natural e legítima. Um dos factores determinantes terá sido a queda do mundo comunista em que a ideia de Deus, segundo o modelo marxista, foi banida. Outro dos factores é a “crise” que afecta o Ocidente (esta crise reporta-se à época em que o livro foi escrito, note-se, e não há crise que vivemos em 2011).

Essa tal “crise” refere-se ao modelo ocidental, em crise porque se revela incapaz de resolver os problemas da pobreza nas suas metrópoles, incapaz de atacar o desemprego, a delinquência, a droga e tantos outros flagelos. No entanto, continua a ser o mais atraente e, diz o autor, não admira que um jovem que acaba de entrar para uma universidade do mundo árabe se sinta fascinado pelo Ocidente, quando outrora talvez se tivesse sentido atraído por uma organização marxizante. Mas qual a forma de aceder a esse mundo fascinante? Somente através da emigração. Assim, todos aqueles que continuam a viver à margem desse mundo em rápida mudança revoltam-se contra a corrupção, a arbitrariedade estatal, as desigualdades, o desemprego, a falta de horizontes e sentem-se tentados pelos movimentos islamitas (alguma semelhança com o que tem vindo a acontecer no norte de África?).

A ascensão do religioso explica-se então através destes dois factores. A juntar a estes dois, temos a evolução no domínio das comunicações e a “mundialização”. Sobre este fenómeno, Maalouf diz que tudo o que as sociedades forjaram no decurso dos séculos para marcar as suas diferenças, para traçar as fronteiras entre si e os outros, está a ser submetido a pressões que visam reduzi-las. A mundialização provoca uma reacção de reforço do sentimento de identidade e da necessidade de espiritualidade, e a pertença religiosa parece responder aos dois.

Mais do que responder aos dois responde também à exigência de universalismo. Maalouf introduz aqui o conceito de “tribos planetárias”, pelo seu conteúdo identitário e por ultrapassarem fronteiras. Mais uma vez, coloca uma questão: que outra pertença irá tornar esta pertença religiosa obsoleta?

Para começar, o autor diz ser necessário não só separar a Igreja do Estado, mas também, satisfazer de outro modo a necessidade de identidade. Separar a espiritualidade da necessidade de pertença, para que o homem possa praticá-la sem ter de se unir a um exército de correligionários.

Para substituir esta pertença, só outra mais vasta e portadora de uma visão humanista mais completa. Surge aqui novamente a “mundialização”. Se os meios de comunicação nos aproximam demasiado depressa e nos levam a afirmar as nossas diferenças, por outro lado, também nos podem fazer tomar consciência do nosso destino comum. Isto poderia levar à emergência de uma nova perspectiva de identidade como a soma de todas as nossas pertenças, na qual se destacaria a pertença à comunidade humana.

Ainda assim, no entender de Maalouf, alguns dos receios em relação à “mundialização” são perfeitamente justificáveis. Não os que se relacionam com o medo da mudança, mas sim aqueles que se revelam no medo da uniformidade. Se a mundialização traz a universalidade, traz também consigo a uniformidade.

Quanto à universalidade, é bem-vinda, pois considera que há direitos inerentes à dignidade do ser humano que ninguém deveria negar ao seu semelhante por causa da sua religião, cor, sexo, nacionalidade,… Ou seja, qualquer atentado aos direitos fundamentais dos homens e das mulheres em nome de uma tradição particular é contra o espírito da universalidade. Respeitar tradições ou leis discriminatórias, diz Maalouf, é desrespeitar as suas vítimas. E se devemos lutar pela universalidade, devemos também combater a uniformização, que é empobrecedora, que nivela as múltiplas expressões linguísticas, artísticas e intelectuais.

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