21.4.08

Entrevista com Raquel Pacheco - Autora da Investigação "Quando Jovens Ganham Voz" - 2ª PARTE




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Esta é a segunda parte da entrevista com a investigadora Raquel Pacheco. Desta vez, vai falar-nos da sua teoria da "Juventude Ameaçadora", sobre vários olhares sobre os jovens e sobre culturas juvenis.

Esta entrevista foi transmitida no programa Vidas Alternativas nº119. Para ouvir o programa na íntegra clique aqui.

Ver primeira parte da entrevista.

O Marinheiro, de Fernando Pessoa



Estreou dia 17 de Abril, no Teatro Municipal de Almada, a peça “O Marinheiro”, de Fernando Pessoa. Em parceria com a Casa Fernando Pessoa, o teatro apresenta ainda obras de várias artistas plásticos inspiradas no poeta português.

A peça “O Marinheiro” foi escrita em apenas dois dias e nunca chegou a ser representada na presença do autor. Mesmo hoje, são poucas as encenações desta peça a que Fernando Pessoa subintitulou “drama estático”.

“Um quarto que é sem dúvida num castelo antigo. Do quarto vê-se que é circular. Ao centro ergue-se, sobre uma mesa, um caixão com uma donzela, de branco. Quatro tochas aos cantos.

À direita, quase em frente a quem imagina o quarto, há uma única janela, alta e estreita, dando para onde só se vê, entre dois montes longínquos, um pequeno espaço de mar.

Do lado da janela velam três donzelas. A primeira está sentada em frente à janela, de costas contra a tocha de cima da direita. As outras duas estão sentadas uma de cada lado da janela. É noite e há como que um resto vago de luar.”


No dia 18, a editora Livros de Areia, em parceria com a Companhia de Teatro de Almada, lançou a edição de “O Marinheiro”. A apresentação do livro realizou-se na Casa Fernando Pessoa e contou com as presenças de Teresa Rita Lopes, especialista na obra de Fernando Pessoa, de Alain Ollivier, encenador da peça e de Pedro Marques, em representação da Livros de Areia Editores.

Teresa Rita Lopes, especialista na obra de Fernando Pessoa

“O Marinheiro tem-me ocupado a vida toda”, declarou aos presentes Teresa Rita Lopes, fazendo de seguida uma apresentação desta obra de Pessoa.

“Um texto tão pequeno… Cada vez que o leio descubro qualquer coisa nova. Por isso, quando aceitei estar aqui para falar de “O Marinheiro”, li-o outra vez com todo o cuidado, acabando por achar coisas novas. Apraz-me falar sobre ele.

Dedico este fascínio pela peça à minha amiga Teresa Mota, com quem em 1961 encenei a peça Três Fósforos, com Amélia Rey Colaço. Foi censurada pela PIDE e, talvez tenha sido por isso, que fugi para Paris. Esta nova abordagem dedico-a à minha amiga.

Não gosto de abordar Pessoa de uma forma esotérica. Toda a minha vida me tenho recusado a enveredar por isso. Ele (Fernando Pessoa) nunca foi ortodoxo nas suas crenças e essas pessoas que o usam para provar as suas crenças irritam-me”.

- Circunstância da peça -

Referindo-se à circunstância desta peça, a especialista esclareceu que foi escrita nos dias 12 e 13 de Outubro de 1913. Tem a ver com a propensão de Fernando Pessoa para o oculto, que o levou a experiências de escrita automática e de “mesa de pé de galo”.

“Sempre pensei em não ir por aí. Qualquer obra dedicada a uma crença fica inevitavelmente datada.

Os simbolistas abriram caminhos. No final do século XIX denunciaram o impasse do teatro. Os simbolistas de língua francesa sonharam o teatro do futuro. O Fernando Pessoa estava a par disto. Maeterlinck recusava todo o teatro naturalista que se fazia na altura. Em 1913, Pessoa comparou-se com Maeterlinck e disse que iria fazer muito melhor.

O verdadeiro teatro descobriu-o em 1914 com a explosão dos heterónimos. O teatro que lhe interessava era o herdeiro do teatro simbolista, recusando os artifícios até aí usados. Inspirado em Hamlet, ele imaginou os heterónimos. São um monólogo prolongado e analítico, imagem de uma personagem de Shakespeare, monologado, sempre só.

Mas o teatro tem de ter acção, embora não um conflito, como o naturalista. O teatro como os simbolistas o entreviram. Isto tem a ver com a atracção de Pessoa pelo outro. O que é interessante é que exista em O Marinheiro uma mise-en-scène espiritual”.

- Lugar desta obra na obra pessoana –

Passando ao lugar que esta peça ocupa na obra pessoana, Teresa Rita Lopes confessou que não é fácil falar de Pessoa sem que nos percamos. “O Marinheiro e Fernando Pessoa são uma “floresta antagónica”, perdemo-nos nos trilhos quando falamos deles.

Esta foi uma obra que Fernando Pessoa adoptou durante a vida toda. Escreveu ao João Gaspar Simões, em 1930, a dizer que ainda estava a ser objecto de correcções. O minimalismo é uma coisa que agrada em Pessoa. Tudo está reduzido ao essencial, corta todos os floreados.

Será que Fernando Pessoa ganhou a aposta que fez com Maeterlinck? Comparei esta peça com “Les Aveugles” e constatei que O Marinheiro responde melhor aos preceitos dos simbolistas. Uma palavra-chave dos simbolistas é o “distanciamento”. Distanciamento da realidade. Distanciamento que as personagens, as veladoras, vão procurar durante todo o tempo.

A ideia central da peça é fugir à realidade, que faz com que as personagens pareçam fantasmas ou sonâmbulos. A noção do espaço, do tempo e da linguagem não tem nada a ver com as personagens normais. Maeterlinck não foi tão longe. “Um quarto que é sem dúvida num castelo antigo” põe-nos logo em dúvida. Pode ser ali como pode ser noutro sítio qualquer.

Fernando Pessoa conseguiu evitar uma coisa que o Maeterlinck não conseguiu evitar, a alegoria. Pessoa nunca faz isto. Este quarto circular é fora do espaço e do tempo – “ainda não deu hora nenhuma” - percebemos logo que não estamos no mundo dos vivos. Distanciamo-nos da acção o mais possível. As veladoras são todas a mesma, não se distinguem. Ali não há conflito. Elas ajudam-se, são solidárias em fugir à vida, no criar o sonho.

Além do “drama estático”, Fernando Pessoa pôs-lhe outro título – teatro de êxtase – essa tal ascese que encontramos também em “Salomé” (“O Marinheiro”, “Diálogo No Jardim do Palácio” e “Salomé” foram todas obras escritas por Pessoa em 1913). Elas, as veladoras, agem para fugir à vida, para criar um sonho. Há uma que se destaca, que é a que conta a história do marinheiro. Há uma luta entre essa necessidade, essa proposta que fazem umas às outras de fugir à vida – “Não rocemos pela vida nem a orla das nossas vestes...” – ganham asas e nas asas do sonho elas levitam.

A oposição é entre a vida e o sonho. Existe a vida, porque esta vida equivale à morte. Álvaro de Campos (um dos heterónimos de Pessoa) diz que temos duas vidas – a verdadeira, que sonhamos em criança, e a falsa, a prática. Morre-se, porque não se sonha bastante. Elas fogem da vida, como quem foge da morte. Viver esta vida ao rés-do-chão equivale a morrer. Por outro lado, elas querem esta vida. “Na vida aquece ser pequeno” – o que assistimos ao longo da peça é a hesitação entre querer fugir da vida e um ritual (toda a peça é um ritual, um acto mágico) em que, através do sonho, elas querem voltar ao Eu Primordial, ao Ser Lar. Ser Lar é Deus. Fernando Pessoa é completamente heterodoxo nas suas crenças – “Creio ou quase creio”. Isto faz com que nunca tenha sido um fanático.

Numa dada altura da peça elas dizem “Tenho um medo disforme de que Deus tivesse proibido o meu sonho...” e falam do frio, esse frio que chega dessas tais regiões isoladas e, por isso, querem o conforto da vida. Este sonho das veladoras é muito complexo. Por um lado, conseguem levantar voo nas asas do sonho, sonhando o seu passado, um sonho divinatório. Trata-se de um perfeito fenómeno de regressão (Pessoa escreveu “não há comunicação directa com Deus, Ser Lar”), em que elas tentam cumprir as etapas que levam ao encontro de si próprias. Mas se permite esta regressão, por outro lado, projecta-nos para o futuro, porque é criador. Depois de sonharem colectivamente o marinheiro descobrem o seu poder – “Por que não será a única coisa real nisto tudo o marinheiro, e nós e tudo isto aqui apenas um
sonho dele?...”
. Elas criam o marinheiro e ele cria outra terra natal.

Esta hesitação entre Céu e Terra é a única acção da peça. Opõe-se à criação das ruas da terra natal do marinheiro, que se assemelha à génese bíblica – “Ao princípio ele criou as paisagens, depois criou as cidades; criou depois as ruas e as travessas, uma a uma, cinzelando-as na matéria da sua alma”. Às vezes chegamos a ter a sensação que as veladoras são médiuns – “Que voz é essa com que falais?... É de outra... Vem de uma espécie de longe...".

No final as perguntas que se colocam são: “Quem é, afinal, o marinheiro” e “O que é a morte?”. O marinheiro talvez seja o próprio Fernando Pessoa. Ele tinha um grande patriotismo em relação à beleza da língua portuguesa. Assim, a verdadeira pátria do marinheiro é a Língua Portuguesa.

A morte é algo que está presente em toda a peça. Sem a consciência da morte não há peça. O tempo é a morte, como pode ser entendido nas palavras de uma das veladoras - “…Velamos as horas que passam…”.

Alain Ollivier, encenador da peça

Na sua intervenção Alain Ollivier esclareceu que para falar sobre o seu interesse pelo “Marinheiro” é necessário dizer que não foi o primeiro a montar esta peça.

“Hoje, Fernando Pessoa tem uma reputação internacional. Fiquei muito impressionado com a sua natureza explosiva. Faço um paralelismo com o teatro simbolista francês. Este tipo de teatro surgiu na última década no século XIX (Maurice Maeterlinck). Existiam peças de teatro super-realistas e medíocres. O teatro simbolista surgiu neste contexto. Pode fazer-se uma correlação entre o teatro simbolista e o teatro de Fernando Pessoa, com pequenos tormentos, com um realismo depressivo. É muito político.

O Marinheiro fala de inspiração poética. Permite conhecer de onde vem a inspiração de Fernando Pessoa, que com 24 anos escreveu esta peça em dois dias. Mostra-nos a sua intuição, a sua visão daquilo que viria a ser a sua vida de artista, de tormento e de sofrimento.

No final agradeceu ao director da Companhia de Teatro de Almada. “Não poderia recusar o convite de Joaquim Benite, porque também achei interessante a encenação, a compreensão do que é a encenação. Escrever uma peça não é explorar uma situação, uma vivência… Não é só fazer um diálogo. É necessário um imaginário animado por um pensamento, uma ideologia, um pensamento analítico, um pensamento que tenha forma.”

Pedro Marques, Livros de Areia Editores

Pedro Marques agradeceu à Companhia de Teatro de Almada a lembrança de ter contactado a sua editora há cerca de dois anos. “Não é um projecto inovador. Outras companhias já nos convidaram para editar teatro. Isto é ir contra-corrente. Não é um trabalho que faça como especialista. Não sou especialista em textos dramáticos, mas trata-se de uma companhia muito sólida, que escolhe textos muito bons. Desde esse contacto que já editámos sete a oito livros. São textos muito interessantes".

Alain Ollivier foi director do Théâthre Gérard Phillipe de Saint-Denis e apresentou, em 2006, na Sala Experimental do TMA a sua encenação de “O Marinheiro”, protagonizado pela actriz francesa Anne Alvaro. Deste espectáculo surgiu o convite para Allain Ollivier voltar a dirigir o “drama estático” de Fernando Pessoa, numa produção da Companhia de Teatro de Almada, com um elenco de três actrizes portugueses, protagonizado por Teresa Gafeira.

Em cena No TMA, até 18 de Maio, a peça “O Marinheiro”, de Fernando Pessoa.

Companhia de Teatro de Alamada
Livros de Areia Editores

15.4.08

Entrevista com Raquel Pacheco - Autora da Investigação "Quando Jovens Ganham Voz" - 1ª PARTE




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Esta é uma entrevista realizada a Raquel Pacheco acerca do seu trabalho de investigação-acção desenvolvido durante a tese de mestrado "Quando Jovens Ganham Voz". Trata-se de uma pesquisa etnográfica sobre media e culturas juvenis. O projecto foi realizado com estudantes "problemáticos" de uma escola de Lisboa e enquadra-se na linha de orientação do projecto Crianças e Jovens em Notícia do Centro de Investigação Media e Jornalismo, que procura identificar, compreender e analisar os modos e formas de recepção de crianças e jovens em relação aos media.

A primeira parte da entrevista foi transmitida no programa Vidas Alternativas nº118. Para ouvir o programa na íntegra clique aqui.

Ver segunda parte da entrevista.

6.4.08

Dá-me o telemóvel!!

Excerto de uma intervenção para o programa Vidas Alternativas, em que dou a minha opinião sobre o caso da aluna, da professora e do telemóvel. Não me pronuncio sobre as atitudes da aluna e da professora, mas sim sobre o papel dos meios de comunicação social neste caso.


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