10.4.07

Entrevista com Hugo Garcia Sobre a Problemática do Aquecimento Global


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O Hugo Garcia é membro do Movimento Liberal Social (MLS) e tem-se dedicado, ultimamente, a investigar os fenómenos das alterações climáticas e do aquecimento global. Esta investigação tem sido feita quer no âmbito daquilo que é defendido pelo movimento ao qual pertence, quer por seu próprio interesse na matéria.

Decidi entrevistá-lo, apesar de ele não ser um perito na matéria, porque com os seus conhecimentos, pode dar-nos, de uma forma sintética e clara, algumas explicações sobre esta problemática ambiental.



IB: Hoje tenho comigo o Hugo Garcia do MLS – Movimento Liberal Social – e é com ele que vou falar sobre a problemática das alterações climáticas e do aquecimento global.
Nas últimas semanas, temos ouvido falar muito sobre estas questões, também por causa do filme do Al Gore. Porquê agora o levantamento desta “celeuma” a propósito do aquecimento global?


HG: Já há algumas décadas que se tem vindo a falar sobre a problemática do aquecimento global. O que tem acontecido é que, nos últimos anos, o que antigamente eram previsões tem vindo a realizar-se. Havia também muitas dúvidas sobre se, efectivamente, seria a mão a responsável pelo aquecimento global e pelas alterações climatéricas e, cada vez mais, há certezas.
O Al Gore já há décadas que estuda o problema. Quando era vice-presidente, durante a administração Clinton, já vinha a chamar a atenção e, desde então, tem-se preocupado cada vez mais em fazê-lo. Agora aproveitou o “timing” certo para lançar este grande aviso. Aconselho toda a gente a ler o livro ou a ver o filme.

IB: Falámos em alterações climáticas e em aquecimento global. Qual é a diferença?

HG: Como o próprio nome indica, o aquecimento global refere-se à subida média da temperatura. Mas, as consequências dessa subida média da temperatura não são iguais no planeta inteiro. O que pode acontecer é, inclusivamente, em certos pontos a temperatura descer. Pode também haver alterações climáticas de outras ordens, como alterações de correntes e de ventos. Têm havido vários casos de ciclones que, à partida, estarão ligados com o aquecimento global.

IB: Por exemplo, o caso da neve em Portugal, em 2006?

HG: Sim, quando no nosso país houve neve de norte a sul; agora, mais recentemente, as cheias em Moçambique; no continente americano muitos casos de ciclones e tufões; ou as subidas da temperatura no norte da Europa.

IB: O que está na origem do aquecimento global?

HG: O aquecimento global resulta daquilo que se chama “efeito de estufa”. O nível de dióxido de carbono e de metano ao longo das últimas décadas, ou até dos últimos séculos, desde a Revolução Industrial, tem vindo a aumentar. O dióxido de carbono e o metano fazem com que mais energia do Sol se retenha na superfície terrestre e daí o aquecimento global.

IB: Por que razão o dióxido de carbono e o metano aumentaram?

HG: O elemento comum entre estes dois gases é o carbono. O dióxido de carbono é composto por oxigénio e carbono e o metano é constituído por hidrogénio e carbono. O oxigénio e o hidrogénio não são problemas, mas o carbono, neste caso, é um problema. Por outro lado, nós somos feitos de carbono, somos formas de vida baseadas em carbono, assim como as plantas e os animais. O que acontece é que há um desequilíbrio. O equilíbrio era que nós, seres-humanos, respirávamos oxigénio transformando-o em dióxido de carbono e as plantas “respiravam” o dióxido de carbono transformando-o em oxigénio. Neste momento, devido à desflorestação, à redução da fauna a nível superficial e a nível aquático e, essencialmente, devido à extracção de petróleo e à sua combustão, tem aumentado o nível de dióxido de carbono.

IB: E quanto ao metano, é verdade que a flatulência das vacas produz metano? Vamos eliminar as vacas ou existe outra explicação?

HG: Isso é uma questão engraçada que anda sempre à volta do tema, mas esse não é um dos grandes problemas. O metano libertado pelas vacas não está a ser acrescentado ao circuito, ou seja, mantém-se dentro do mesmo ciclo, ao contrário do petróleo, que é extraído do subsolo e, portanto, é acrescentado à superfície. As madeiras que, por exemplo, queimamos nas nossas casas também libertam metano, mas se continuarmos sempre a cuidar das nossas florestas, a quantidade de carbono no ar não está a aumentar e, portanto, isso não resulta num problema.

IB: E para o futuro? Hoje existe uma consciência global ou, pelo menos, tenta-se que haja essa consciência global em relação ao aquecimento. Por que razão não há consenso no que diz respeito ao Protocolo de Quioto?

HG: Desde 1972 que a quase totalidade dos países e dos seus governantes concordaram que era necessário haver uma preocupação, tomarem-se medidas para proteger o ambiente. Em 1999 chegou-se à conclusão, talvez pelas características típicas dos políticos, que dizer que se concorda com essa ideia não se reflecte em acções tomadas. No Direito Internacional existe um princípio que diz que nenhum país deve ser obrigado a cumprir um acordo que não tenha ratificado. Foram vários os países que não assinaram o Protocolo de Quioto. O exemplo flagrante é, obviamente, os Estados Unidos, porque são o grande poluente. Agora estão a surgir novos poluentes, como a China e a Índia, que, numa corrida para o desenvolvimento, têm muito menos cuidado, muito menos preocupação e também não tiveram uma educação para a população para este problema. Naturalmente são pessoas que têm outras prioridades e que mais dificilmente que nós se preocuparão com o ambiente. A Europa está a fazer um grande esforço para conter as suas emissões e, até no sentido da florestação, para conseguir planear para o equilíbrio, embora seja difícil.

IB: Mas os países nórdicos sempre foram conhecidos por terem essa preocupação com a protecção ambiental. Portanto, esse esforço já não é só de hoje, vem de há muitos anos, enquanto para países como a China, que nunca tiveram esse tipo de preocupações, pelo menos na era da industrialização, é uma novidade, portanto só agora é que vão começar a tê-las?

HG: Sim, eu diria até que podemos ver o desenvolvimento intelectual ou moral de um país pela forma como se preocupa com o ambiente, será um dos muitos factores. Gostava de chamar a atenção para que, no caso dos Estados Unidos, não se pode dizer que em lado nenhum se respeite o Protocolo de Quioto. Embora não tenham assinado, curiosamente foi um senador da Califórnia que, na Califórnia, não tendo assinado, consegue cumprir com os valores que lhe teriam sido impostos se tivesse aceitado o Protocolo de Quioto.

IB: E para o futuro, o que poderá ser feito para controlar as alterações climáticas e o aquecimento global?

HG: A nível de cada país, é controlar os níveis de emissões, especialmente na indústria, e também nos transportes individuais, e é necessário um grande esforço de florestação. Conseguir estas metas a nível internacional é que será o mais complicado. Vai ser um trabalho de diplomacia, um trabalho de negociações, um trabalho de informações e até de ajudas. A ONU está a evoluir muito nesse campo. Está a ajudar países mais pobres a desenvolverem-se de forma sustentada e, de forma preocupada com o futuro, ajuda também a criar políticas. Daqui para a frente, será como que um jogo de puxa e empurra, um jogo de política, um jogo de negociações para ver de que forma é que todos nós, que estamos no mesmo barco, conseguimos proteger o planeta em que habitamos.

Esta entrevista é parte integrante do programa Vidas Alternativas transmitido na semana de 16 de Abril.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá, pela terceira vez (tb não consegui as outras 2 entrevistas anteriores) não consigo ouvir a entrevista, então resta-me ler mesmo.

Acho importantíssimo esse assunto,seria mais louvável se as autoridades e as pessoas comuns, conseguissem já, de imediato, fazer sua parte para tentarmos ter mais qualidade hj e no futuro.

Tudo isso só depende de nós mesmo.

Um assunto mto interessante de se falar tb, é a escassez de água doce (fenomeno derivado tb da alterações climáticas) As pessoas comuns (que escovam os dentes com a torneira aberta, que demoram no banho,que lavam os carros e seus quintais com água em abundância) não pensam enquanto comentem atos que, daqui a poquissimo tempo, vão ver o qto, aquele litro que deveria ser poupado, amanhã pode ser o novo ouro,o novo petróleo que o ser humana tanto precisa....

Enfim.....vamos nós, tentar fazer a nossa parte !!

Bjs

Inês Branco disse...

Olá Gi!

Desde já obrigada pelas visitas ao blog e por gostares.

Pois é, tou com um probleminha com os audios, mas não tenho tido tempo para reparar isto.

Agora vou tentar sempre colocar as transcrições. As da entrevista com a Helena de Sousa Freitas serão colocadas em breve.

A tua sugestão para o tema da água é muito boa. Com certeza vou pegar-lhe.

Beijinhos!

Micael Morango disse...

Semprre fiquei mais esclarrecido. Porrque não uma entrrevista a um nutrricionista acerrca da crrescente obesidade juvenil?

Parrabéns pelo teu trrabalho.