25.2.10

Os Bloggers são Jornalistas?

Inês Branco - 31 de Janeiro de 2008, para Questões Contemporâneas do Jornalismo - Mestrado em Jornalismo - UNL-FCSH

1.Introdução

A grande dificuldade em responder à questão sobre se os bloggers são jornalistas surge desde logo com o facto de conceitos como blogging e jornalismo não estarem claramente definidos. Se considerarmos o jornalismo como uma forma de divulgar informação, então o blogging é jornalismo e quem escreve em blogues pode ser considerado jornalista. No entanto, esta definição de jornalismo abrangeria outras actividades que não são consideradas jornalismo, como o próprio ensino, ao espalhar informação pelos estudantes. Por outro lado, se falarmos de jornalismo como sinónimo de trabalhar numa organização noticiosa, então o blogging não é jornalismo.
Neste ensaio procurarei, mais do que dar uma resposta inequívoca a esta questão, fornecer alguns conceitos que estão na base desta discussão, perceber em que situações as duas actividades de sobrepõem e conhecer reflexões feitas desde as origens do blogging acerca deste tema.

2.Conceitos

Importa, antes de mais, esclarecer alguns dos principais conceitos relacionados com os blogues, embora não haja definições standard.

Weblog
Foi em 1998 que surgiram os primeiros weblogs. Caracterizam-se por serem uma espécie de diários online. São páginas Web com inserções datadas e organizadas da mais recente para a mais antiga (Fichter, 2001; Bausch, Haughey, Hourihan, 2002; Matheson, 2004). Esta é uma definição mais ou menos consensual, e é a que aparece no glossário We Blog: Publishing Online With Weblogs de Paul Bausch, Matthew Haughey e Meg Hourihan (Ojala, 2005). Desde 1998, com a chegada de softwares que permitem a sua criação automática, começaram a crescer em termos de popularidade entre os utilizadores da Internet (Matheson, 2004).

Blog
Trata-se de uma abreviação de weblog e de o acto de escrever um weblog (Bausch, Haughey, Hourihan). Em 2004, o dicionário online Merrian-Webster declarou “Blog” a primeira palavra do ano. A sua definição é “um website que contém um jornal pessoal online com reflexões, comentários e muitas vezes hyperlinks” (Ojala, 2005). Os primeiros blogues evoluíram de páginas Web. De acordo com Bausch, Haughey, Hourihan, o termo “weblog” entrou no vocabulário em 1997, apesar de pessoas como Tim Berners-Lee, David Winer e Justin Hall já escreverem páginas “What’s new” desde 1994 (Ojala, 2005).
Um blogue é uma versão mais dinâmica de um website pessoal, sendo actualizado, pelo menos, semanalmente e, algumas vezes, diariamente, hora a hora, ou mesmo mais frequentemente, com as entradas mais recentes a aparecer primeiro. Os blogues invocam hyperlinks para outros sites para reforçarem as suas próprias publicações (Wall, 2005).
O conteúdo dos blogues pode variar bastante, desde assuntos mundanos até aos mais pessoais, focando-se em vários tópicos, nos quais se incluem as notícias ou a informação. Daí que se chamem a este tipo de blogues “blogues noticiosos”.

Blogger
É aquele que escreve ou publica em blogues.
Muitas vezes, procura na Web notícias interessantes e coloca hyperlinks para essa informação. Pode sumarizar o conteúdo do link ou pode colocar comentários, críticas ou outros pensamentos pessoais sobre essa informação (Wall, 2005).
Blogger é também um software da Google que veio permitir fazer blogues sem serem necessários conhecimentos de tecnologia por parte de quem os cria.

Notícia
Informação nova sobre um assunto de algum interesse público, que é partilhada com uma porção de público. As notícias são, com efeito, o que vai na mente de uma sociedade (Stephens, 1988).
As notícias são temporais, interessam a quem está mais próximo do assunto que trazem, envolvem o que é conhecido ou proeminente, as suas consequências afectam muitos ou simplesmente são suficientemente estranhas para serem qualificadas de interesse humano (MacDougall e Reid, 1987).
As notícias são baseadas numa série de escolhas ou selecções feitas nas salas das redacções, respeitantes àquilo que vai ser enfatizado e como. As notícias são a interpretação que os media fazem dos eventos (Lippmann, 1965)

3.Eleições Presidenciais Americanas de 2004

Para perceber a evolução dos weblogs e a forma como estes vieram mudar os media “mainstream” é necessário falar das eleições presidenciais norte-americanas de 2004.
Os blogues políticos com comentários sobre os candidatos, as questões e as campanhas chamaram a atenção dos media (Ojala, 2005). À medida que os media iam descobrindo o poder dos blogues, perceberam algo que os bloggers nunca tinham considerado, os blogues como uma encarnação do Novo Jornalismo (Seelye, 2004; Cristol, 2002). Quando os media começaram a utilizar os blogues como veículo para reportagens e comentários, estes começaram a ganhar legitimidade e estatura. Tornaram-se parte do panorama de publicações e os editores começaram a preocupar-se sobre se os seus jornais se tornariam obsoletos face às novas plataformas dos weblogs (Ojala, 2005).
No início, os blogues eram uma voz para aqueles que se opunham ao “mainstream”, em especial, no que dizia respeito aos blogues políticos. Quando os media tradicionais começaram a adoptar os blogues, algumas das características originais começaram a desvanecer-se. A periodicidade das inserções ou publicações nos blogues tornou-se mais regular, o número de leitores aumentou e os comentários nos blogues começaram a ser repetidos na imprensa e na televisão. A voz dos comentadores começou a ser reconhecida como tendo credibilidade e autoridade (Ojala, 2005).
Uma medida importante para entender o que se passou durante as eleições presidenciais americanas de 2004 é o número de blogues existentes nessa época. De acordo com o Technorati.com, existiam mais de 4,298,000 sites em 2004. Nas eleições levadas a cabo apenas dois anos antes, os blogues ainda estavam a emergir e foram muito pouco utilizados, faltando-lhes visibilidade que lhes pudesse dar algum crédito (Lawson-Borders e Kirk, 2005).
As eleições presidenciais norte-americanas de 2004 marcaram o ano em que o blogging se tornou a assinatura de comunicação dos jornalistas (Packer, 2004).
Segundo a investigação feita por Gracie Lawson-Borders e Rita Kirk, professoras da Kent State University e da Southern Methodist University, respectivamente, existem três tipos de pesquisa que nos podem dar uma visão sobre o blogging como meio de comunicação política. Primeiro está a investigação do blogue como diário social. Segundo, está a análise dos blogues como ferramentas organizativas. Terceiro, os blogues são vistos como uma forma de jornalismo cívico e participativo.
Blogue como diário social
Um aspecto da narrativa social é o estudo de como a mensagem se espalha pela população. O activismo social dos bloggers promove a auto-expressão democrática e o efeito de rede (Kath & Kellner, 2004, p. 91). Com as eleições políticas de 2004 deflagrou uma pletora de bloggers que injectaram o seu ponto de vista. Os bloggers foram prolíficos nas convenções Democráticas e Republicanas de 2004, com ambos os partidos a permitir que bloggers se registassem como representantes dos media para fazer a cobertura da campanha (Lawson-Borders e Kirk, 2005).
Blogue como ferramenta organizativa
Três marcas do discurso dos blogues são importantes para a organização de grupos. Em primeiro lugar, o discurso dos blogues é curto e emotivo. O jornal “Chicago Tribune” descobriu que, durante a convenção democrática, mais leitores se voltaram para os blogues do que para as suas estórias (The Media Center, 2004). Apesar de muitas vezes ter origem em fontes jornalísticas tradicionais, existe alguma coisa em relação à voz dos blogues que diz não se tratar de uma voz corporativa.
Uma segunda marca é a utilização dos blogues como ferramenta motivacional. O blogging foi primeiramente utilizado como ferramenta motivacional para encorajar o envolvimento de apoiantes. Numa das campanhas para as primárias, a de Howard Dean, o blogue foi uma das principais fontes de informação para os seus apoiantes. A pessoa que liderou o movimento acreditou que as pessoas se queriam envolver. Quando a campanha arrancou, no Outono de 2003, o blogue já tinha mais de 30,000 visitas diárias (Weiss, 2003). Muitas pessoas que queriam participar, não o faziam por falta de tempo. O uso dos blogues veio permitir este envolvimento.
A terceira marca é ser uma ferramenta de participação. Os blogues fazem mais do que permitir a interacção dos participantes, muitas vezes são eles próprios que criam as estórias. Segundo o administrador do blogue da campanha de John Kerry, apesar de apenas 10 por cento das pessoas que entravam no site visitava o blogue, a tendência era ficarem mais tempo no site. Isto faz com que as campanhas tenham a possibilidade de influenciar mais os leitores, expondo-os a informação adicional. Isto porque gostam do acto de participar.

Blogue como forma de jornalismo cívico e participativo

Canais de comunicação como os blogues criaram um fórum para o discurso político e para a abordagem de outros assuntos públicos, importantes para aqueles utilizadores não muito afiliados a organizações de jornalismo tradicional (Cohen, 2002). Chamar aos blogues “media independente” seria inapropriado, mas claramente os editores estão empenhados em descobrir e avaliar os factos que nos são apresentados em cada dia (Blood, 2005).
Os blogues apresentam um novo contexto para se entender o papel entre os jornalistas e as suas audiências, em que estas últimas têm o potencial de se envolverem mais, de serem mais interactivas e de serem produtoras e não apenas consumidoras de informação (Matteson, 2004).
Embora ainda esteja em discussão se o blogging veio mudar o discurso político, Gracie Lawson-Borders e Rita Kirk concluíram que nas eleições de 2004 a blogosfera só por si não foi suficiente para contar a estória. As notícias requereram a credibilidade trazida pelas organizações noticiosas. Mais do que isto, as pessoas que tentaram cobrir as eleições através dos seus blogues não fizeram mais do que os jornalistas.

4.Blogues Noticiosos

Se grande parte dos blogues trata de assuntos pessoais, sendo praticamente diários online, existe uma larga minoria cujos assuntos são de natureza pública. Muitas vezes estes blogues citam e comentam estórias publicadas nos meios de comunicação social, quer seja nos jornais, quer seja na televisão ou nos websites das respectivas organizações.
Este tipo de blogues, embora com uma categorização algo problemática, surgiu na sequência dos chamados “blogues de guerra”, de que falarei mais à frente. O problema em categorizar um blogue como “noticioso” está relacionado com o próprio conceito de jornalismo. Os weblogs vieram transformar leitores de notícias em criadores de notícias e consumidores de notícias em comentadores. Se por um lado se espera que os weblogs venham rejuvenescer o jornalismo, por outro, as convenções sociais sobre quem se pode proclamar jornalista ou sobre o que conta como jornalismo leva à necessidade de uma renegociação (Matheson, 2004).
Num estudo realizado em 2004, Donald Matheson procurou saber como é que os possuidores de weblogs sobre assuntos de carácter público negociavam a sua relação com os géneros e posição social do jornalismo. Neste estudo chegou à conclusão que, apesar de muitos críticos considerarem o weblogging como uma forma radical de jornalismo, os bloggers entrevistados mostravam uma relação mais complexa com a ideia de actuarem com o papel de jornalistas. A maioria deles escrevia com o objectivo de contribuir para o debate público, mas existia uma grande ambivalência e mesmo algum antagonismo relativamente à ideia de ver o weblogging como jornalismo.
Um dos respondentes, um repórter no activo, caracterizou o seu blogue com um local de experimentação, com um trabalho mais relacionado com assuntos políticos e com uma maior reflexão sobre as notícias, tudo fora das rotinas e das normas do seu trabalho diário.
Para outros respondentes o seu papel era claramente o de jornalista. Dois destes escreviam para dar voz a vozes marginalizadas e outros dois apropriavam-se do papel de jornalista curiosamente para fazer a distinção entre o papel de fazer jornalismo e o papel daqueles que são empregados de organizações noticiosas. Para estes dois, o weblog era uma intervenção política na esfera dos media, que servia para manter a honestidade dos jornalistas e para dar vozes e aproximações novas aos media noticiosos. Uma das respondentes argumentava que os webloggers eram muitas vezes melhores jornalistas políticos, pois faziam a análise política que deveria estar nos media, mas que não estava.
Apesar desta apropriação do papel de jornalista, Matheson concluiu que os webloggers não se consideravam similares a estes profissionais. Antes usavam o jornalismo para activamente construírem as suas próprias identidades, colocando-se como alternativas a um “mainstream” corrompido. Verificou existir mesmo uma tensão evidente entre o desejo de que a sua voz marginalizada se ouvisse e o reconhecimento.
Paulo Querido e Luís Enes, em entrevistas a vários bloggers portugueses realizadas para o livro Blogs, de 2003, também vieram mostrar que os próprios autores dos blogues não encaravam os espaços que geriam como substitutos dos media tradicionais, nem tão pouco pareciam tentados pelas funções dos jornalistas profissionais (Freitas, 2006).
Ainda que se chamem “blogues noticiosos”, tipicamente estes blogues, geridos individualmente, não criam conteúdos originais, suportando-se em outras fontes para as quais colocam links e que servem de inspiração para os seus comentários (Wall, 2005). Têm sido descritos com estando fora das normas vigentes do jornalismo tradicional, com menos gatekeepers ou filtros e não se suportando em grandes organizações. (Lasica, 2002; Levy, 2002).

5.Pós-modernidade

Vários conceitos têm sido utilizados para caracterizar o tipo de jornalismo que estes blogues noticiosos produzem: jornalismo personalizado, jornalismo “faça-você-mesmo”, jornalismo do mercado negro e jornalismo pós-moderno (Wall, 2005). Relativamente a este último, se o jornalismo do século XX é visto como um produto da modernidade, então as mudanças sociais dos anos mais recentes, que levaram os observadores a identificar um período de hipermodernidade ou de pós-modernidade, precisam de ser consideradas ao avaliar o futuro do jornalismo (Wall, 2003).
A pós-modernidade é vista como uma resposta à modernidade, uma visão do mundo associada a conhecimento científico e a outras assim chamadas de “grand narratives”, que legitimam certas epistemologias e foco no controlo do conhecimento por parte de certos profissionais ou elites (Lyotard, 1984). A pós-modernidade defende que a realidade não é fixa ou passível de ser conhecida fora do “eu”. Em vez disso, nós criamos a realidade através de linguagens e interacções ou performances (Jameson, 1991).
Alguns observadores vêem certas características pós-modernas encarnadas em tendências negativas do jornalismo, ligando-as à cada vez menos clara fronteira entre notícias e entretenimento e à global celebração da cultura comercial (Hartley, 1996). Ainda assim, existem outros que fazem uma descrição do jornalismo pós-moderno, encarnando valores mais positivos. Para estes, o jornalismo pós-moderno consistiria em pequenas estórias locais sobre pessoas, que transmitem sofrimento humano e que rejeitariam uma meta-narrativa. Com as audiências a consumirem activamente estórias, a pós-modernidade daria um maior foco a vozes e a versões de eventos não-oficiais (Ettema, 1994).
Para Melissa Wall, investigadora da Universidade Estadual da Califórnia, a questão está em saber até que ponto estes blogues diferem das noções tradicionais daquilo que é considerado notícia e de que forma estes blogues podem ser considerados uma forma de jornalismo pós-moderno.

6.Relação entre Blogging e Jornalismo

Antes de tentar saber se serão os blogues uma forma de jornalismo pós-moderno, é necessário primeiro esclarecer qual a relação existente entre o blogging e o jornalismo. Serão os blogues uma oportunidade ou um desafio para o jornalismo? A respeito do blogging muito se tem dito. Há quem pense que expõe os pontos fracos do jornalismo (Regan, 2003), há quem ache que é uma força que vai abrir buracos nas paredes dos gatekeepers e que irá acabar com o reinado de soberania do jornalismo (Rosen, 2005). No entanto, há também quem diga que os bloggers e os jornalistas se complementam e se intersectam (Lasica, 2003) e que o debate entre jornalistas e bloggers é falso e redutor (Rosen, 2005).
Para Wilson Lowrey, investigador da Universidade do Alabama, os jornalistas e os bloggers estão mais interessados em manter ou procurar autoridade do que em beneficiar a sociedade. A motivação e a acção individuais são constrangidas por factores sociais tais como os recursos das organizações, os processos profissionais e as mudanças tecnológicas. Surge, assim, a necessidade de mapear a relação entre bloggers e jornalistas, para saber em que aspectos do seu trabalho os jornalistas são vulneráveis ao blogging, o que é que prediz as suas forças e as suas vulnerabilidades e que mudanças os jornalistas são compelidos a fazer.
Lowrey definiu vários conceitos relacionados com o jornalismo, fazendo a distinção face ao blogging: profissão, valores, processo de recolha de notícias e formato.
Muitos dos blogues são publicações personalizadas e poucos bloggers recebem compensação. Deste ponto vista, blogger não seria uma profissão. No entanto, para a definição de uma profissão conta a percepção que o indivíduo tem de estar a praticar uma actividade similar, com as mesmas normas e valores sobre as suas práticas (Blor e Dawson, 1994; Dingwall, 1976; Fine, 1996; Van Maanen e Bartlley, 1984) e os bloggers tem esta percepção (Kramer, 2004).
Quanto aos valores, os blogues são considerados participativos, transparentes e opinativos (Lasica, 2003; Wall, 2004, 2005), enquanto os valores do jornalismo são a exactidão, a equidade e a objectividade (International Federation os Journalists, 1986; Kovach e Rosenstiel, 2001; McQuail, 2000; Society of Professional Journalists, 1996).
Outro factor distintivo é o processo de recolha de notícias. Para os jornalistas é uma rotina. Para os bloggers é uma raridade (Blood, 2003)
O formato online interactivo dos blogues também o distingue do formato do jornalismo tradicional. Apesar de a utilização de hyperlinks para outros blogues também ser possível nos sites de jornalismo tradicional, os jornalistas não os utilizam rotineiramente como os bloggers.
Lowrey desenvolveu um modelo, que lhe permitiu explicar o impacto que o blogging tem no jornalismo. Este modelo permite mostrar que os jornalistas alteram as qualidades subjectivas do seu processo profissional, ou seja, a lógica interna da sua prática profissional (diagnóstico, inferência e tratamento) para cobrir áreas que se tornaram vulneráveis ao blogging (concorrentes ocupacionais) e que desafiam a sua capacidade de controlar o trabalho de informar. Os jornalistas utilizam a discussão intra-profissional, feita em convenções e publicações comerciais para determinar quais direcções necessitam de mudar para reparar as vulnerabilidades. Através desta discussão os jornalistas redefinem problemas, audiências, objectivos e até mesmo a natureza dos jornalistas e do jornalismo. Os benefícios e constrangimentos objectivos externos, tais como a estrutura e recursos organizacionais e os constrangimentos legais afectam o quanto os jornalistas são vulneráveis e moldam os esforços destes em mudar o conhecimento e as práticas profissionais.
No entanto, estratégias para dar resposta ao desafio do blogging já começaram a surgir. Algumas organizações jornalísticas passaram a ter blogues nos seus websites. O impacto destas estratégias remodela o processo profissional dos jornalistas, sendo que a comunidade dos jornalistas pode tentar, por exemplo, redefinir o blogging como uma ferramenta do jornalismo (Lowrey, 2006).
O problema está em saber se estas estratégias vêm beneficiar a sociedade. Os apoiantes do blogging dentro da comunidade jornalística consideram-no uma evidência de um novo jornalismo mais igualitário e participado (Lasica, 2002). Mas ainda não é claro se estes blogues noticiosos são de facto sinónimo de um jornalismo mais participativo, pois existem evidências de que grande parte dos blogues têm links para outros blogues (Singer, 2005). Por sua vez, as organizações noticiosas preocupam-se mais em conter e direccionar o fenómeno do blogging do que em fomentar uma participação mais democrática (Lowrey, 2006).
Uma reacção socialmente benéfica ao blogging foi o reforçar das tarefas jornalísticas de recolha de notícias e de assegurar a sua exactidão, o que os bloggers não têm muitas vezes condições de fazer. O crescente reconhecimento da importância destas tarefas viria beneficiar as audiências e a sociedade. O blogging veio também demonstrar que muitos jornalistas tendem a largar uma estória prematuramente. Se as organizações noticiosas apostassem mais na especialização e numa melhor cobertura das estórias, as audiências beneficiariam. No entanto, o mais certo é estas organizações repararem esta vulnerabilidade, encorajando os jornalistas a monitorizarem os blogues e a seguirem as estórias que tiveram mais poder junto das audiências. (Lowrey, 2006).
Assim, este modelo é especialmente útil para entender quando é que uma mudança na profissão do jornalismo fará sentido. Quando uma ocupação está bem enraizada e não tem um rival relevante, as mudanças não são prováveis. Quando uma ocupação está bem enraizada, mas vulnerável a rivais, embora não seja necessária uma mudança fundamental no curto prazo, uma alteração à “fachada” será útil. Mas quando uma profissão não está bem enraizada e está vulnerável a rivais, é necessária uma mudança fundamental. Apesar de o futuro não ser claro, o que é certo é que o jornalismo como profissão será objecto de mudanças incrementais. Estas adaptações poderão ser bem sucedidas ou falhar na manutenção do controlo jornalístico e podem mesmo mudar fundamentalmente a natureza do jornalismo “mainstream” (Lowrey, 2006).
Um ponto fulcral nesta discussão sobre a relação entre blogging e jornalismo tem sido a ideia de que pelo menos algum blogging constitui “jornalismo participativo” ou “jornalismo do cidadão” e a questão de como isto se relaciona (ou não) com anteriores movimentos profissionais para jornalismo “público” ou “cívico”. Os blogues tornaram-se uma fonte primária de notícias e informação durante catástrofes cuja dimensão desafia o alcance e recursos das organizações noticiosas tradicionais, como foi o caso do tsunami na Tailândia, dos ataques bombistas de Londres ou do furacão Katrina nos Estados Unidos. Nestes casos os blogues tornam-se claramente uma fonte de matéria-prima para os jornais e para a televisão, fornecendo fotografias, trechos de informação e depoimentos na primeira pessoa. No entanto, na actividade diária dos blogues noticiosos os papéis invertem-se, pois as notícias publicadas pelos jornalistas tornam-se no “combustível” para a actividade dos bloggers (Graves, 2007).
Para Lucas Graves, investigador de tecnologia dos media, comunicação política e notícias, da Columbia University, as principais mais-valias do blogging são os contributos dos leitores, a fixação e a justaposição.
Graves compara o blogging aos softwares de open-source, que disponibilizam o seu código a tantas pessoas quanto possível, permitindo que, em vez de se focarem na especialização de uns poucos profissionais, se possam apoiar em toda uma comunidade para descobrir erros e resolver problemas. Na blogosfera tanto as reportagens originais como a verificação dos factos operam segundo os mesmos princípios.
Tanto em televisão como em imprensa, as notícias podem ser bastante efémeras. As reportagens que não atinjam uma massa crítica de atenção podem desaparecer de vista rapidamente. Os blogues noticiosos (e os websites em geral) constituem uma espécie de quadro global no qual se afixam factos incongruentes para que possam ser facilmente recuperados, a salvo da amnésia do clico de notícias (Graves, 2007).
Por último, relacionando-se com a fixação, está a capacidade que os blogues têm de contrapor ou confrontar factos. Os blogues têm uma muito maior liberdade editorial que lhes permite fazer uma análise das notícias, que os jornalistas normalmente não fazem, devido a certos constrangimentos, como o cumprimento de prazos, a necessidade de parecerem objectivos, terem de escrever para um espaço limitado e outros que tais.
Embora estas mais-valias não sejam exclusivas dos blogues, nem sejam uma lista definitiva, dão-nos já uma boa base para entender por que é que os blogues são como são e quão claramente este novo género reflecte as características tecnológicas que o suportam (Graves, 2007).

7.Blogging: Jornalismo Pós-Moderno?

Na sua pesquisa, Melissa Wall percebeu que globalmente muitos dos blogues parecem estabelecer diferentes convenções para a sua construção das notícias. Quando comparados com o jornalismo tradicional, os blogues sugerem uma forma modificada das notícias.

Voz
Com excepção dos colunistas, a voz tradicional de um jornalista profissional é desconectada, neutra e conta os dois lados da estória. Espera-se que o jornalista não se envolva nas suas estórias. No caso dos bloggers, a sua voz é personalizada, opinativa e, muitas vezes, parcial (Wall, 2005).

Audiências
Em termos de audiências o papel tradicional é o de receptores passivos. Já nos blogues, muitas vezes as audiências são convidadas a contribuir com informação, comentários e algumas vezes a contribuir com suporte financeiro (Wall, 2005).

Forma
Quanto à forma das estórias que são contadas nos blogues também difere. As estórias “mainstream” seguiram durante décadas certas fórmulas estruturais, tais como a pirâmide invertida. Os textos eram fechados com o sentido de não deixarem abertura a múltiplas interpretações e as audiências não eram encorajadas a relacionar aquela estória com outras reportagens. Com os blogues a forma da estória alterou-se para um fragmento, que muitas vezes é incompleto, sem seguir uma ligação e, assim, parece nunca estar concluída. Alguém pode ler um fragmento, seguir um link para a notícia original, mas também pode explorar outros sites, voltar para comentar ou simplesmente deixar o texto aberto (Wall, 2005).

Credibilidade
Uma das principais características do jornalismo, a credibilidade, é ganha no caso dos blogues de maneira muito diferente da tradicional no caso dos jornalistas. Enquanto os media tradicionais estabelecem um padrão de rotinas para criar a sensação de dependência, os blogues invocam a sua distância do poder para criação de credibilidade. Muitos destes blogues invertem completamente a sabedoria tradicional no que a isto diz respeito. Quanto mais personalizado e aberto a opiniões um blogue é, mais confiável e credível ele parece ser. Um estudo realizado sobre leitores de blogues noticiosos sugere que estes são visitados precisamente porque os leitores acreditam serem mais credíveis do que os media tradicionais (Kayes e Johnson, 2004).
Outro factor que contribui para a percepção de credibilidade é a própria relação que os blogues têm com as suas audiências. Enquanto os media tradicionais vêem os seus leitores como clientes que passivamente recebem o seu produto, os bloggers vêem as suas audiências como apoiantes e mesmo como seus pares. Com a controvérsia relacionada com a guerra do Iraque não é de estranhar que as pessoas quisessem falar sobre o assunto (Kayes e Johnson, 2004).
Esta participação dos cidadãos, que os torna de certa forma co-autores dos conteúdos dos blogues, pode mesmo vir a mudar a estrutura daquilo que é considerado notícia (Wall, 2005). Isto vai ao encontro das previsões quanto ao futuro da comunicação, em que os consumidores iriam participar na criação daquilo que iriam consumir (Rheingold, 2002).
No entanto, no seu estudo Wall acaba por chegar à conclusão que enquanto alguns observadores escreviam sobre novas formas de notícias, tais como o jornalismo pós-moderno consistir em pequenas estórias, o que ela encontrou assemelha-se mais a fragmentos. Enquanto muitos blogues cultivam a sensação de que são “outsiders” relativamente aos media corporativos, ironicamente, na maior parte das vezes não utilizam reportagens independentes, suportando-se nos media tradicionais para muito daquilo que publicam.
Outras das conclusões, também irónica, é que os hyperlinks utilizados nos blogues para dar outro formato à estória e para lhe dar credibilidade, vêm amplificar muito o alcance da publicação original no site dos media tradicionais, pois esta é reproduzida pelos bloggers e por outros media online. Os sites dos media tradicionais, que não encorajam os leitores a sair do seu site, não dedicariam com certeza grande parte das suas páginas à colocação de hyperlinks para outros sites. Onde os bloggers promovem redes sociais, os media tradicionais são mais levados a colocar conteúdos comerciais.
Assim, parece existir aqui alguma forma de jornalismo pós-moderno: um que desafia o controlo da informação por elites e que questiona a legitimidade das notícias tradicionais, que consiste não tanto em grandes narrativas, mas em pequenos pedaços de uma estória, que é reproduzida nos blogues. As notícias são produtos sociais que reflectem os valores do seu contexto. Tal como outros períodos lançaram outros desafios ao jornalismo tradicional (como é o caso do Novo Jornalismo), o jornalismo pós-moderno é um produto de várias mudanças sociais, talvez mais evidentes, devido à ocorrência da guerra do Iraque que parece ter agravado o aparecimento de formas alternativas de notícias (Wall, 2005).

8.Blogues de Guerra

Na origem dos chamados “blogues noticiosos” estiveram os “blogues de guerra”.
Muitos destes blogues apareceram no clima político polarizado depois do 11 de Setembro de 2001, passando os weblogs a focar-se também nos media e nos políticos, levando as notícias relacionadas com o ataque ao World Trade Center e com a invasão do Iraque a uma audiência mais vasta (Matheson, 2004).
Várias análises sugerem que estes blogues são um novo género de jornalismo que enfatiza a personalização, a participação das audiências na criação de conteúdos e a forma das estórias, que são fragmentadas e interdependentes de outros websites. Estas características sugerem uma mudança da abordagem moderna do jornalismo tradicional em direcção a uma nova forma de jornalismo infundida em sensibilidades pós-modernas (Wall, 2005).
O início da guerra do Iraque, na Primavera de 2003 é um momento crítico para a análise dos blogues, devido à importância das notícias em tempos de guerra. Os media, durante estes períodos tornam-se menos críticos do governo e de acções militares e mais propensos a repetir “propaganda” governamental (Knightley, 2004; Tumber e Palmer, 2004). Este facto abriu espaço para outros meios de comunicação oriundos do estrangeiro, desde a imprensa britânica aos bloggers, levarem um grande número de americanos a procurarem na Web notícias sobre a guerra (Kayes e Johnson, 2004; Pew Center for Internet Studies, 2003). A resposta destes blogues à procura de informação que aumentou nos Estados Unidos com a invasão do Iraque, levou alguns observadores a caracterizarem este segundo conflito entre os dois países como a “primeira guerra na Internet” (Kurtz, 2003).

9.Importância do Samizdat

Numa reflexão sobre se os bloggers são jornalistas, fazer uma abordagem apenas ao panorama ocidental e democrático seria bastante restritivo. Svetlana V. Kulikova, investigadora de comunicação de massas na Universidade Estadual do Lousiana, e David P. Perlmutter, investigador da Universidade do Kansas, fizeram, em 2007, um estudo que avaliou o impacto e a importância do blogue de advocacia, Akaevu.net, directamente ligado à “Revolução das Túlipas”, no Quirguistão.
O estudo avaliou até que ponto os blogues samizdat (não oficiais) serviram de fontes de informação oposta para os cidadãos daquele país, bem como para observadores internacionais, e quais as evidências dos efeitos dos blogues samizdat em eventos políticos, tais como o do caso analisado.
Estes investigadores chegaram à conclusão que o blogue se tornou de facto uma fonte de informação rica e única não disponível através de outras fontes locais ou dos media mundiais. Os blogues samizdat podem servir para incitar ou suster a democratização em países do Terceiro Mundo, mesmo aqueles que atravessam um desenvolvimento económico desigual.
Várias versões dos acontecimentos foram relatadas sobre a “Revolução das Túlipas”, quando o presidente Askar Akayev fugiu do país que governara durante catorze anos, depois de uma série de protestos públicos. Apareceu a versão dos media ocidentais, a versão da media pro-governo e a versão da imprensa dos países vizinhos. Neste contexto, os meios de comunicação domésticos do Quirguistão não sabiam o que informar, acabando por recorrer a fontes de informação alternativas, como a Internet.
No Quirguistão as vozes da oposição tinham apenas dois jornais, pelo que muita da “campanha” anti-governamental era feita através da Internet. No entanto, muitos dos sites existentes foram bloqueados durante as eleições parlamentares de 2005.
Samizdat era o nome dado, na era soviética, aos escritos não oficiais e auto-publicados da oposição. Hoje muita desta literatura é publicada através da Internet. Com o bloqueio dos dois sites Gazeta.kg e Kyrgyz.us, o Akaevu.net foi criado como solução temporária. Começou a operar apenas um dia antes da revolução, a 23 de Março de 2005, e a sua função era dar informação minuto a minuto sobre a situação política no Quirguistão.
O blogue era “alimentado” por compilações de materiais recolhidos noutros sites, pela media internacional, pela media do Quirguistão que cobria eventos locais, pela media russa e por materiais produzidos pelo próprio grupo de advocacia. Foi o primeiro site a noticiar a libertação de Felix Kulov, um dos principais opositores ao regime, com 30 minutos de avanço em relação à sua primeira aparição na televisão. Em termos de audiência, era sobretudo, estudantes a viver no estrangeiro, jornalistas, investigadores políticos e outros peritos, que falassem russo. No dia 4 de Abril, o blogue deu por findada a sua missão: “hoje podemos dizer que certamente não há mais lugar para nenhum Akayev na vida política do Quirguistão”.
Kulikova e Perlmutter concluíram que o blogue Akaevu.net, mesmo com uma curta vida, de apenas um mês, contribuiu de facto para a cobertura da “Revolução das Túlipas” na Internet. Cumpriu, assim, a sua missão como solução temporária para fazer face à tentativa das forças pro-governamentais de travar o fluxo de informação dos sites da oposição. Um caso como estes sugere que um regime de “democracia controlada” talvez não tenha forma de controlar o único verdadeiro meio de comunicação livre, a Internet, pelo menos com os meios existentes.

10.Conclusão

Como comecei por dizer, não é fácil responder à questão colocada. Vários são os investigadores que já se debruçaram sobre o tema, sob várias perspectivas e aqui tentei deixar algumas.
Ser blogger, só por si, não é ser jornalista. Existem várias espécies de blogues e a única que se poderia sobrepor à função do jornalismo é o blogue de conteúdos noticiosos. No entanto, na maioria dos casos, estes blogues mais não fazem do que comentar ou ligar informação recolhida em meios de comunicação tradicionais. Jornalista não é aquele que dá as notícias, é também aquele que descobre as notícias. Neste aspecto os bloggers falham, porque, na maioria dos casos, não são eles que descobrem as notícias. Existe ainda o facto de as organizações noticiosas terem construído a sua credibilidade ao longo do tempo e segundo critérios que são aceites pelas audiências. Se alguém quer obter informação, a veracidade e exactidão desta é crucial. Como escreve Helena de Sousa Freitas, jornalista e investigadora, seria preocupante se a crença de que a ausência de um editor não é sinónimo de prejuízo da credibilidade, mas uma garantia da inexistência de censura.
Umas das questões que se impõe é a de saber se os próprios bloggers querem ser jornalistas e verifica-se que, apesar de alguns se identificarem com a profissão, muitos outros querem apenas exercer uma actividade paralela à sua, que lhes permita intervir e gerar a discussão pública de assuntos do seu interesse.
Existe ainda a própria classificação de jornalista, que é dada no nº1 do artigo 1.º do Estatuto do Jornalista: “são considerados jornalistas aqueles que, como ocupação principal, permanente e remunerada, exercem funções de pesquisa, recolha, selecção e tratamento de factos, notícias ou opiniões, através de texto, imagem ou som, destinados a divulgação informativa”. Esta definição exclui, à partida, os bloggers, pois não exercem a actividade a tempo inteiro e não são remunerados, embora neste último caso, o facto de existir publicidade nos blogues já possa contribuir de alguma forma para o conceito de actividade remunerada.
No entanto, existem excepções, como aconteceu no caso do blogue “Do Portugal Profundo”, de António Balbino Caldeira, professor universitário. Ao ser arguido num processo por ter colocado no seu blogue informações sobre o processo Casa Pia, cuja difusão a Justiça decidira manter interdita, viu durante a sentença que o absolveu a 14 de Novembro de 2005, o seu blogue ser considerado um meio de comunicação social, ao contrário do que ele próprio alegara: “pode ser já considerado um meio de comunicação social, ainda que tenha surgido como um meio de comunicação personalizada, uma vez que permite a comunicação em massa, bastando, para tal, o acesso à net” (Freitas, 2005; Caldeira, 2005).
Uma profissão que tem vindo a evoluir desde o final do século XIX não deixará de existir, nem será substituída por outra. Talvez mude de forma, talvez recorra a outros meios ou a outras fontes, mas a essência é a mesma.


11.Bibliografia

Kulikova, Svetlana V. and Perlmutter, David D., Blogging Down the Dictator? The Kyrgyz Revolution and Samizdat Websites, International Communication Gazette 2007; 69; 29

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Freitas, Helena de Sousa, Sigilo Profissional em Risco, MinervaCoimbra (2006)