18.11.07

Entrevista com André Soares, coordenador do MLS Tomar




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IB: Como surgiu esta ideia de criar um grupo do MLS em Tomar?

AS: Surge da reflexão do MLS acerca da política local. O MLS, até agora, não tinha nenhuma acção a nível local, nenhuma concelhia, nenhum grupo local. Na altura em se discutiu isto, achei que o concelho de Tomar, por ser de onde venho e por achar que é um concelho subaproveitado, propus à direcção do MLS que este fosse o concelho escolhido para arrancarmos com um projecto-piloto de política local.

IB: Como te juntaste ao MLS e porquê este interesse pela política?

AS: Estou a acabar o mestrado em Política Social e das Organizações e desenvolvo um estágio académico em Lisboa. Reparto o tempo entre Lisboa e Tomar. Conheci o MLS na imprensa nacional, através de um artigo no “Público”.

IB: O grupo de Tomar foi criado há quanto tempo?

AS: Foi criado em Junho deste ano. Estamos na fase de cativar pessoas para a equipa, a ouvir a população para saber quais são os problemas e a consultar dados estatísticos e demográficos. Nesta fase, o mais importante é construir uma equipa. A partir de Janeiro de 2008 começaremos a trabalhar num programa político.

IB: Quem é essa equipa?

AS: Temos aqueles que são ou vêm a ser membros do MLS e aqueles que são independentes, mas que querem colaborar neste projecto e que se identificam com uma política local liberal. São pessoas de Tomar, pois se queremos fazer uma lista e partir para eleições, essas pessoas terão de estar recenseadas no concelho de Tomar para poderem ser eleitas.

IB: Quando o MLS se propuser a eleições em Tomar, serás tu o candidato. Quais são os teus projectos de vida e qual uma boa proposta do MLS em Tomar?

AS: Sou eu quem está a liderar o grupo e deverei continuar durante algum tempo, no entanto, não temos um candidato definido. Estou disponível para isso. A equipa ainda está em construção, muita coisa ainda vai ser discutida.

Estou em Lisboa, mas a minha residência oficial é em Tomar. Quero manter a minha ligação ao concelho. Vou dividindo a minha vida entre Lisboa e Tomar. Hoje isto está muito facilitado com as novas tecnologias. Consigo ter informação política de Tomar quase em tempo real e julgo que não seja indispensável a minha presença lá.

IB: Como conhecedor da região de Tomar, o que pensas que o MLS poderá dar a Tomar que Tomar não tenha já ou que outros partidos não possam vir a dar?

AS: Tomar tem um potencial enorme. Tem excelentes acessibilidades, um património histórico-cultural incrível, mas está muito subdesenvolvido. Isto tem partido das políticas muito conservadoras que têm existido nos últimos anos.

IB: No que é que se caracteriza esse subdesenvolvimento?

AS: Verifica-se que na zona de Tomar existem concelhos com franco desenvolvimento, como Torres Novas, Ourém, Abrantes e Entroncamento, tanto em sentido económico, como social. Enquanto Tomar tem estado estagnado e até tem tido algum retrocesso. Na mesma medida que vão abrindo novas empresas nos concelhos limítrofes, em Tomar as empresas vão fechando. Cada vez há menos emprego qualificado em Tomar e o de baixa qualificação já está a desaparecer. A população está a ficar muito envelhecida e isto é particularmente grave, porque não se deve à saída de pessoas para ir para Lisboa, Porto ou Coimbra, mas sim para os concelhos vizinhos. Aí têm acesso a mais cultura, a melhores empregos.

IB: O que deu origem a essa paragem no desenvolvimento?

AS: O retrocesso começou no 25 de Abril. Antes disto, era um pólo industrial de importância no nosso país. A partir dali houve um “abanão”, tal como em outras partes do país e parece-me que Tomar não soube recomeçar. Ainda andamos a viver a ressaca do 25 de Abril. A cidade está muito fechada a novos investimentos, a novas pessoas, a novos projectos. Há uma super-protecção dos poderes instalados, quer económicos, quer sociais. É extremamente difícil uma média ou grande empresa entrar na economia tomarense. E isto é culpa das políticas que se têm tomado. Os projectos são boicotados não pelas pessoas que estão a vender os terrenos, mas pela Câmara Municipal, que ou não passa os alvarás ou não dá autorizações para que as empresas se instalem no concelho.

IB: Nos últimos 30 anos já passaram vários partidos pela Câmara. Todos adoptam essa política?

AS: É um fenómeno interessante, mas infeliz. Tal como na política nacional, a Câmara vai alternando entre PS e PSD, mas as políticas são muito parecidas.

IB: Não há uma alternativa?

AS: Creio que não. Os partidos, mesmo os outros, têm as mesmas pessoas desde há 10 ou 15 anos. São sempre as mesmas ideias. Por isso parece que ainda vivemos há 10 ou 15 anos atrás. Não há inovação, querer andar para a frente. Contribuem todos para esta situação.

IB: O que pensas dar a Tomar que Tomar não tenha?

AS: A estratégia do MLS terá de passar sempre por três vertentes: económica, social e ambiental.

Na vertente social, falo do património histórico-cultural. Medidas tão simples como em vez de promovermos o turismo junto do público, promovê-lo junto dos operadores turísticos. Se tivermos operadores turísticos a operar em Tomar vamos ter muito mais turismo.

IB: Mas o desenvolvimento de Tomar não passa só pelo turismo.

AS: A mesma coisa acontece em termos económicos. Não existe uma marca que venda Tomar às empresas. É tão simples como criar uma marca “Tomar Investir”. Tomar tem de ser promovido junto dos empresários e mesmo das pessoas da terra. O investimento não tem de vir de fora.

IB: Haverá algum tipo de apoio que exista nos concelhos limítrofes e que não exista em Tomar?

AS: A primeira razão para isto acontecer é o facto de nos concelhos vizinhos não haver forças de bloqueio tão fortes.

IB: Essas forças são quem?

AS: Parte claramente da Câmara e dos partidos representados na autarquia.

IB: Pensas que existe um interesse no bloqueio do desenvolvimento de Tomar?

AS: Em Tomar temos muito pequeno comércio e existe um grande “lobby” do pequeno comércio. Os autarcas não querem proteger o que é seu, querem proteger aquele “lobby”. Querem proteger o comércio tradicional a todo o custo, ainda que as pessoas vão fazer compras ao lado.

IB: Não se está a abrir as portas a outro tipo de investimento, que geraria muito mais emprego?

AS: Mesmo esse comércio, se entrassem novas empresas no panorama económico de Tomar, também se iria desenvolver. Julgo que se poderia criar um gabinete de apoio ao desenvolvimento.

IB: E se um cidadão de Tomar quiser colaborar contigo?

AS: Pode entrar em contacto comigo ou com a concelhia. Mesmo que não seja para dar a cara, é importante que as pessoas participem e dêem a sua opinião. É importante que as pessoas não vivam à margem do que se passa.

IB: Para Tomar há alguma acção prevista?

AS: Está a ser preparada uma apresentação pública, tanto do MLS, como do MLS Tomar.

Para obter mais informações sobre o MLS Tomar, poderá consultar o blog.